Falar de produção na reforma agrária é falar sobre diversidade. Em Goiás, são mais de 13 mil famílias vivendo e produzindo em 308 assentamentos. Pesquisa feita pelo Incra sobre qualidade de vida, produção e renda nos assentamentos da reforma agrária, em 2009, mostra que 76% das famílias assentadas no Brasil retiram sua renda da parcela que ocupam.
Leite, feijão, mandioca, milho e pequenos animais de criação são a grande base desta renda. No entanto, cada vez mais, estes produtores se reinventam. Trabalhar com hortas orgânicas, produção de frutas, mel, artesanato, extrativismo, fitoterapia, processamento de leite e frutas, implantação de agroindústrias são alguns dos exemplos desta diversidade.
A agricultora Leoneide Pereira Batista, moradora do assentamento Canudos, também conhecido como Sítio Bela Vista, conta que há cerca de 10 anos, ela, o marido e a filha vivem do que tiram do pedaço de terra onde se estabeleceram. Léo, como é conhecida, trabalha com ervas medicinais e coleta de frutos do cerrado, além de manter horta, galinhas, porcos e algumas vacas para alimentar a família.
“Nós não somos coitados como muita gente pensa”, fala referindo-se à condição de ser assentado da reforma agrária. “Moramos numa casa boa, numa terra bem localizada – perto de cidades, inclusive, Goiânia – temos água limpa, nossa produção é orgânica, temos internet”, conclui.
Lindomar Divino de Oliveira, popularmente chamado de Gaúcho, morador do assentamento Santa Marta, no município de Mundo Novo, tem muitos motivos para sorrir e agradecer. “Há treze anos, quando cheguei aqui, tinha uma bicicleta”, lembra. Hoje, o lote do Gaúcho é um dos mais produtivos da comunidade.
Ele é criador de gado para venda de bezerros e novilhas, atualmente, tem 400 cabeças de nelore; dezenas de galinhas e porcos; casa confortável, carro, cinco tratores e outros implementos agrícolas. Empreendedor, ele observou a necessidade e a carência de maquinário no assentamento. Adquiriu os equipamentos e hoje aluga para os produtores da região, assentados e não assentados.
No sudoeste do estado, Romilda Borges Rezende da Silva, assentada no projeto Rio Paraíso, no lote conhecido como sítio Boa Esperança, localizado em Jataí, implantou há cerca de 10 anos o primeiro abatedouro de frangos da região administrado por agricultores familiares.
Em tempos normais, sem isolamento social devido pandemia de coronavírus, ela e mais 12 famílias do assentamento fornecem aves para 40 escolas do município, chegando a abater 15 mil quilos por semestre, por meio do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). O abatedouro também fornece aves para o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). Neste caso, fornece até cinco mil quilos.
Na região norte do Estado, a família de Neurice Araújo Torres Lima, moradora da parcela 90 do assentamento Dom Roriz, em Minaçu, decidiu trabalhar com agrofloresta. Plantaram mais de 200 árvores de baru; 230 de pequi; 80 de caju entre outras frutíferas do cerrado. A produção do pomar é vendida nas feiras locais da cidade.
“Estou orgulhosa de ser assentada em Goiás”, afirma Neurice. Ela disse que a terra promove o sustento da família e a educação dos quatro filhos. Todos ingressaram na faculdade pelo Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera) – programa que apoia projetos de educação voltados para o desenvolvimento das áreas de reforma agrária. Segundo ela, três dos filhos cursam Agronomia e uma Medicina.